segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Torcida contra os Gigantes

O São Paulo venceu o Santos no último domingo pela 31º rodada do Campeonato Brasileiro. Vitória apertada: um 4x3 chorado. O Santos lutou até o fim. Duas coisas chamaram a atenção nessa partida em especial.

A primeira é que o Santos lutou com fibra. Como não se via á tempos. O que chama atenção é a posição do time no campeonato: 13º. Em um português claro, o clube não está lutando por absolutamente nada. O Santos joga por jogar. O São Paulo é diferente. O clube ocupa o 4º lugar e luta pelo seu tetracampeonato. Está a apenas 2 pontos do líder Palmeiras.

O segundo ponto que me chama atenção é a torcida contra o Tricolor Paulista. Quando em 2005 o São Paulo vinha de um jejum de 11 anos sem conquistar um título expressivo, a torcida brasileira foi caridosa com o clube. O Brasil torceu junto pelo sucesso do clube na Libertadores e no Mundial de Clubes. Mas agora o papel é outro. O São Paulo desde 2005 conquistou um título importante por ano. Alcançou uma façanha que nenhum clube Brasileiro conseguiu: o terceiro título da Libertadores e o tricampeonato Brasileiro. Por isso a vitória contra o São Paulo é tão intensa.

O Tricolor Paulista representa os dominantes. O clube que mantém a hegemonia é psicologicamente transferido para os poderosos. É através do São Paulo que a população desconta suas frustrações. Nada melhor ganhar do São Paulo. Representa ganhar, mesmo que por alguns instantes, de toda uma hegemonia imposta à população em geral.

É bom ver os gigantes caírem. Dá mais prazer. Como raramente conseguimos isso no nível pessoal (econômico e político), toda nossa carga emotiva é transferida para o que se passa na mídia. Sendo assim, a derrota do São Paulo tem um sabor melhor. O erro de Sacha no Twitter ou troca errada de câmara no Jornal Nacional produz na população uma satisfação de vitória.

É interessante notar o processo inconsciente que o ser humano constrói: se eu não posso subir no degrau que ele está, então que ele desça para o degrau que estou. Assim, nada melhor do que ver o Nerd errar. Ou corrigir um professor. Ou então ver um pastor roubando. Dá prazer ver os EUA com problemas internos ou o craque bater o pênalti errado. O mesmo vale para os sucessos de Hollywood que fracassam ou para a grande emissora que perde audiência.

Na Copa do Mundo esse processo também acontece. O Brasil se torna um poderoso que se vinga dos adversários no campo. Isso porque somos os explorados, os dominados, os ameaçados pelas nações mais ricas. Por isso, a vingança que obtemos no futebol dá mais do que uma satisfação: dá um prazer comparado a passar no vestibular ou conseguir um bom emprego. É muito bom vencer os dominantes: a Itália, a França, Inglaterra, EUA. Isso se dá também com os países Africanos: é bom ver Senegal batendo na França ou a Inglaterra perdendo para Costa do Marfim. São os dominados batendo nos exploradores.

O futebol sintetiza bem essa revolta das massas. E então fica sempre por isso mesmo. Na ausência de um fato que lute politicamente ou que condense as aspirações por um país melhor, a queda dos gigantes funciona como um belo substituto.

Os mitos da vida moderna

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